Научная статья на тему 'ORGANIZACIóN COMUNISTA EM AMéRICA LATINA DESPUéS DE LA II GUERRA MUNDIAL: LOS RATROS DE LA COMINTERN'

ORGANIZACIóN COMUNISTA EM AMéRICA LATINA DESPUéS DE LA II GUERRA MUNDIAL: LOS RATROS DE LA COMINTERN Текст научной статьи по специальности «История и археология»

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GUERRA FRíA / SINDICALISMO / MOVIMIENTO POR LA PAZ / JUVENTUD DEMOCRáTICA

Аннотация научной статьи по истории и археологии, автор научной работы — Kinoshita Dina Lida

Una de las consecuencias de los Acuerdos de Yalta (1943), fue la disolución de la Internacional Comunista (Comintern o IC). Esto fue un esfuerzo por demostrar que la URSS no estaba interesada en la exportación de la revolución bolchevique y que el objetivo era sólo la derrota del fascismo nazi. Sin embargo, después de finalizado el conflicto, y en consonancia con la profundización de la guerra fría entre los aliados occidentales y la URSS, se crea una nueva estructura que sostuvo por muchos años a todos los organismos del comunismo internacional: la Kominform, la Federación Sindical Mundial, el Consejo Mundial de la Paz, la Revista Internacional, la Federación Internacional de la Mujer, la Federación Internacional de la Juventud Democrática, y otros cuerpos menores

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Текст научной работы на тему «ORGANIZACIóN COMUNISTA EM AMéRICA LATINA DESPUéS DE LA II GUERRA MUNDIAL: LOS RATROS DE LA COMINTERN»

Organizagao Comunista na América Latina no pós II Guerra Mundial: Rastros do Comintern

Organización Comunista em América Latina después de la II Guerra Mundial: los ratros de la Comintern

The communist organization in Latin America after World War II: Traces of the Comintern

*

Dina Lida Kinoshita

Resumo

Uma das consequencias dos Acordos de Yalta (1943) foi a dissolu^ao da Internacional Comunista (COMINTERN ou IC). Houve um esfor?o de Josif Stalin em demonstrar que a URSS nao estava interessada em exportar a Revoluto Bolchevique e que o objetivo era tao somente a derrota do nazi-fascismo. Mas pouco depois do final da II Guerra, em consonancia com o aprofundamento da Guerra Fria entre os Aliados do Ocidente e a URSS, cria-se uma nova estrutura que mantém ao longo de muitos anos todos os organismos da IC através do COMINFORM, da Federado Sindical Mundial, do Conselho Mundial da Paz, da Revista Internacional, da Federado Internacional de Mulheres Democráticas, da Federado Internacional da Juventude Democrática e outros organismos de menor importancia.

Palavras-chave: Guerra fria - Trabalhismo - Movimento pela Paz -Juventude Democrática

*

Brasileira. Professora Doutora da USP desde 1971, membro do Conselho da Cátedra UNESCO de Educagao para a Paz, Direitos Humano, Democracia e Tolerancia, junto ao Instituto de Estudos Avangados da Universidade de Sao Paulo; membro do Conselho de Redagao da Revista "Política Democrática". Foi diretora e posteriormente presidente do Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos (CBELA) nos anos 90. É autora de dezenas de artigos publicados em livros e revistas académicos bem como em jornais. Também tem proferido palestras em escolas, sindicatos e outras organizagoes sociais como trabalho de Extensao de Servigos á Comunidade da Universidade. - Correspondencia A/C Sandra Sedini (Secretaria). Cátedra UNESCO de Educagao para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerancia. Instituto de Estudos Avangados - USP. Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa J n 374 sala 15 E-mail: [email protected]

Resumen

Una de las consecuencias de los Acuerdos de Yalta (1943), fue la disolución de la Internacional Comunista (Comintern o IC). Esto fUe un esfUerzo por demostrar que la URSS no estaba interesada en la exportación de la revolución bolchevique y que el objetivo era sólo la derrota del fascismo nazi. Sin embargo, después de finalizado el conflicto, y en consonancia con la profondización de la guerra fría entre los aliados occidentales y la URSS, se crea una nueva estructura que sostuvo por muchos años a todos los organismos del comunismo internacional: la Kominform, la Federación Sindical Mundial, el Consejo Mundial de la Paz, la Revista Internacional, la Federación Internacional de la Mujer, la Federación Internacional de la Juventud Democrática, y otros cuerpos menores

Palabras clave: Guerra Fría - Sindicalismo - Movimiento por la paz -Juventud democrática

Abstract

One consequence of the Yalta Accords (1943) was the dissolution of the Communist International (Comintern or IC). This was an effort to prove that the USSR was not interested in the export of the Bolshevik Revolution and the goal was only the defeat of Nazi fascism. However, after the conflict ended, and in line with the deepening of the Cold War between the Western Allies and the Soviet Union, establishing a new structure that held for many years to all agencies of international communism: the Cominform, the Federation Global Union, the World Peace Council, the International Journal, the International Federation of Women, the International Federation of Democratic Youth, and other minor bodies

Keywords: Cold War - Labor - Movement for Peace - Democratic Youth

O Cominform

Em setembro de 1947 é convocada por Stalin e organizada por Zhdanov uma reuniao dos Partidos Comunistas europeus que ocorreu em Szklarska Poreba, na Polonia. Participaram da reuniao o Partido Comunista Búlgaro, o Partido Comunista da Tchecoslováquia, o Partido Comunista da Iugoslávia, o PCUS, o Partido Operário Unificado da Polonia, o Partido dos Trabalhadores Húngaro, o Partido dos Trabalhadores Romeno e os dois grandes partidos comunistas da Europa Ocidental: o italiano e o francés. A motiva9ao imediata foi dirimir divergencias entre estes partidos quanto á participa9ao ou nao da Conferencia "Plano Marshall" a realizar-se em Paris em junho de 1948. Mas no contexto da escalada da Guerra Fria foi decidido criar o COMINFORM (Communist Information Bureau) cujo propósito era coordenar a9oes entre os partidos comunistas sob orienta9ao soviética. O

COMINFORM acabou agindo como ferramenta da política externa da URSS. Este organismo publicava um jornal, cujo título era Pela Paz Duradoura, pela Democracia Popular. Na medida em que o Partido Comunista da Iugoslávia buscava seu próprio caminho sem submissao à URSS, foi acusado de titoísmo e em 1948 foi expulso do COMINFORM. A sede, inicialmente em Belgrado, foi transferida para Bucareste. O COMINFORM foi dissolvido em 1956 devido às inúmeras divergências e dissidências ocorridas no Movimento Comunista Internacional (MCI) após o XX Congresso do PCUS, e à reaproximaçâo do governo Khruschev com a Iugoslávia. Embora os partidos membros do COMINFORM fossem os citados acima, todos os PC's tinham seus representantes. O do Partido Comunista do Brasil (PCB) foi o jornalista Osvaldo Peralva.

Em uma longa entrevista à Fundaçâo "Perseu Abramo", Jacó Gorender, ex dirigente do Partido Comunista Brasileiro, nome adotado pelo Partido Comunista do Brasil a partir de 1960 (PCB) recorda os cursos Stalin, promovidos sob orientaçâo do COMINFORM: "Esses cursos se inseriram num esforço que nao era só brasileiro, mas mundial, do movimento comunista. A intençao consistia em transmitir um cânone doutrinário uniformizado, que vinha de Moscou e do COMINFORM. Tratava-se de inculcar uma fórmula do que eu hoje chamaría marxismo bastardo na cabeça de centenas de milhares de militantes do mundo inteiro, os quais, com isso, passavam a pensar de maneira padronizada." Cabe lembrar que os professores destes cursos nacionais realizavam cursos na URSS e funcionavam como multiplicadores nos respectivos países. A escola de formaçao de quadros soviética era inicialmente a Escola Leninista Internacional que depois passou a denominar-se Instituto de Ciências Sociais; esta estrutura de educaçao e formaçao de quadros perdurou por todo o período soviético, tendo sido encerrada em 1991 embora nos últimos anos, durante o período Gorbachev tenha mudado de caráter, adquirindo uma feiçao mais consultiva e uma temática de acordo com as novas realidades mundiais e nao com os cánones ortodoxos. A política do COMINFORM para a América Latina continuava sendo a definida pelo IC da Revoluçao Nacional Democrática. A análise consistia em definir os países da América Latina como países essencialmente agrários de sistema semifeudal e burguesias muito débeis onde a realizaçao da reforma agrária, a ampliaçao do mercado interno e a ruptura com o imperialismo eram as grandes questôes. Para se ter uma idéia da camisa de força exercida, o PC uruguaio praticamente copia em 1955 a Resoluçao política do IV Congresso do PCB como se as realidades dos dois países fossem idénticas. A resoluçao brasileira foi elaborada em Moscou e Diógenes de Arruda Cámara, dirigente nacional na época se jactava de afirmar que a mesma foi aprovada pelo Comandante Supremo, Josif Stalin. Este quadro vai mudando após o XX Congresso e alguns PC's da regiao passam a estudar com mais seriedade as respectivas questôes nacionais. Com a vitória da Revoluçao Cubana, a via armada para a revoluçao na América Latina, adormecida desde os anos 30, volta à tona em setores da esquerda do Continente. Os traços da IC podem ser notados no Departamento de América dirigido por Armando Pinheiro em Cuba. As diversas guerrilhas surgidas nos anos 60 no Continente, sao treinadas e recebem apoio humano e material de Cuba, sendo organizados diversos congressos para manter um mínimo de uniformidade, onde se destaca a reuniao da OLAS realizada em La Habana entre 31 de julho e 10 de agosto de 1967. Ironicamente, após a derrocada do "socialismo real", os movimentos de esquerda que se desgarraram da tradiçao terceiro internacionalista soviética se aglutinam em torno do que

resta dos países dirigidos por partidos comunistas, e que ao longo de décadas tinham políticas distintas (China, Coréia do Norte, Cuba e Vietna) para seguir os rastros de organiza9ao da IC.

Na América Latina, o Partido dos Trabalhadores - Brasil (constituido por setores remanescentes da luta armada, por trotskistas e a esquerda católica) convoca com o apoio do PC cubano os partidos de esquerda da AL para criar o Foro Sao Paulo. É um foro consultivo sem imposi9oes aos diversos partidos mais, na prática, funciona de maneira semelhante ao COMINFORM e a partir de 2000, a Venezuela de Chávez assume um papel importante sediando congressos do Conselho Mundial da Paz e da Federa9ao Mundial de

Mulheres Democráticas, organiza9oes que serao detalhadas a seguir.

***

Uma série de antigos organismos da IC que já vinham sendo ampliados a partir da política das Frentes Populares definida no VII Congresso da IC realizado em julho de 1935, foram redefinidos no pós II Guerra Mundial como organismos de massa e nao mais partidários embora fossem fachadas para repercutir em todo o mundo a política externa soviética nas diversas esferas. Passaremos a discorrer a seguir a respeito dos que consideramos mais importantes.

A Federaçâo Sindical Mundial

De acordo com a teoria marxista-leninista, à medida que o desenvolvimento das forças produtivas entra em choque com o modo de produçâo vigente abre-se um período de revoluçâo social. De acordo com Marx, "De todas as classes que, na hora atual, se opôem à burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes periclitam e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, pelo contrário, é o seu produto mais auténtico." De modo que a organizaçâo do proletariado, classe que substituiria a burguesia no poder, torna-se a "menina dos olhos" do Movimento Comunista Internacional. Daí a grande importância da Federaçâo Sindical Mundial, de certa maneira sucessora do PROFINTERN.

Criada logo após o fim da II Guerra Mundial, foi concebida à imagem da Organizaçâo das Naçôes Unidas para congregar todas as organizaçôes sindicais numa única organizaçâo internacional. Em 1949 várias organizaçôes sindicais do mundo ocidental abandonaram a FSM. O motivo imediato consiste na disputa com relaçâo ao apoio ao Plano Marshall. Na verdade, a grande disputa ocorre em torno da cisâo que ocorre devido à Guerra Fria. Em 1949 os social-democratas formam a Confederaçâo Internacional de Organizaçôes Sindicais Livres que por sua vez se funde, em 2006, à Confederaçâo Mundial dos Trabalhadores, formando a maior central sindical, a Central Sindical Internacional. A FSM segue a estrutura de organizaçâo leninista, altamente hierarquizada e verticalizada, onde a

autoridade máxima da entidade é o Congresso Mundial de Sindicatos o qual se reúne a cada quatro anos. Por sua vez o Congresso elege o Conselho Geral que se reúne anualmente entre cada congresso. O Conselho Geral elege o Secretariado Geral composto pelo Secretário Geral e cinco secretários bem como o Bureau Executivo da FSM composto de 12 membros. Embora a FSM funcionasse como organismo de massa e muitos sindicalistas que compareciam aos congressos nao pertencessem aos PC's, na prática toda a estrutura política e de organiza9ao era largamente hegemonizada por quadros comunistas. A sede da FSM está desde o início em Praga, atualmente na República Checa. Os sindicatos da FSM se agrupam por ramos de produ9ao nas Unioes Internacionais de Sindicatos, a saber: Energia, Metalurgia, Química e Combustíveis; Constru9ao civil, materiais de constru9ao e florestais; Trabalhadores do transporte; Agricultura, Alimenta9ao, Comércio e Téxteis; Funcionários Públicos e, Professores. Os sindicatos da FSM também se agrupam regionalmente em: Confedera9ao Internacional de Sindicatos Árabes; Organiza9ao de Unidade Sindical Africana e Congresso Permanente de Unidade Sindical dos Trabalhadores da América Latina e do Caribe, criada em 24 de janeiro de 1964 em Brasília como sucessora da Confedera9ao de Trabalhadores da América Latina. Como a maioria dos países da AL passava por muitas crises institucionais e alguns tinham regimes ditatoriais com repressao a movimentos sociais durante longos períodos, o Uruguai, país detentor de maiores liberdades democráticos fornecia maior estrutura material e humana até a vitória da Revolu9ao Cubana.

É emblemático que dois Congressos da FSM ocorram em La Habana - Cuba, em 1982 e 2005. Por outra parte, Enrique Pastorino do Uruguai, assume a secretaria-geral entre 1978 e 1980. Cabe mencionar a solidariedade aos sindicalistas perseguidos pelos regimes ditatoriais da AL que encontram guarida em Praga durante o período do "socialismo real". Num Congresso realizado em Varsóvia em 1954 é aprovada a Carta dos Direitos Sindicais onde se destaca o direito dos trabalhadores se organizarem livremente em sindicatos sem interferencia de patroes e governos; o livre funcionamento das organiza9oes sindicais; a garantia do direito de greve e no plano internacional, "...organizar reunioes e conferencias internacionais, assim como organizar a solidariedade e a ajuda mútua internacional". Num contexto latino americano de poucas liberdades democráticas a luta por tais direitos assume fundamental importancia. O acesso a arquivos sindicais no Brasil é muito precário na medida em que durante o período ditatorial houve interven9ao em vários sindicatos, foram dissolvidas as Federa9oes de Trabalhadores e a Central Geral dos Trabalhadores. De todo modo foi possível entrevistar alguns sindicalistas da época e encontrar documentos esparsos no arquivo de Roberto Morena, um dos maiores sindicalistas e deputado federal no Brasil. Em geral trata-se de relatórios elaborados sobre a situa9ao de países latinoamericanos, sobretudo do Brasil onde há análise de conjuntura e a situa9ao dos trabalhadores submetidos a arrocho salarial, sindicalistas perseguidos, greves e lutas no campo. Por razoes óbvias de seguraba nao aparecem nomes de companheiros participantes desta estrutura. Foram encontrados dois documentos assinados: um referente ao Brasil, assinado por Aloizio Palhano, que tenta chegar a uma Conferencia Plenária do Comité Sindical Mundial de Consulta e de Unidade de A9ao Antimonopolista realizado em Leipzig, na entao RDA, nos dias 27 e 28 de novembro de 1963. O que ressalta no relatório é a dificuldade do sindicalista chegar ao evento do qual participou apenas das

consideragoes finais sem poder relatar a situagao brasileira; o segundo é do uruguaio Felix Diaz, sem data, que ocorre no período ditatorial uruguaio que se inicia com as seguintes palavras:

Compañeros, al comenzar nuestra intervención, lo hacemos en nombre de nuestros presos y torturados, de nuestros militantes que luchan en la clandestinidad para defender los intereses de los trabajadores frente al fascismo." Em seguida reafirma "...no podemos ser neutrales entre la guerra y la paz, no podemos ser neutrales entre la vida y la muerte de la humanidad."

E mais adiante, "Cuando decimos qué FSM queremos, no hacemos un juicio negativo sobre su pasado... Pero el desafio de los años 80 pone a todo el movimiento sindical ante nuevas realidades..." O IX Congresso da FSM realizou-se em Praga em abril de 1978 sob o lema da "Unidade e solidariedade dos trabalhadores e dos sindicatos frente às lutas atuais e por um mundo onde desabroche a paz e a independência dos povos, o bem estar, a liberdade, o progresso económico e social". Este Congresso foi realizado num ambiente de esperança graças à derrota dos EUA e reunificaçao do Vietna, do fim do colonialismo portugués na África, a queda do que restava do fascismo na Europa (Espanha, Grécia e Portugal) e após longas negociaçôes, a assinatura dos Acordos de Helsinque. A América Latina merece dois itens, o 15° e o 16° do preámbulo da Declaraçao Final:

Na América Latina e no Caribe existem diferentes tipos de regimes sociais e políticos, como Cuba socialista que progride e se afirma em todos os domínios sendo um fator estimulante e de solidariedade e, por outro lado regimes fascistas como no Chile, Uruguai, etc passando por todas as nuances de orientaçao de países em processos relativamente prolongados de desenvolvimento capitalista ou de países recém libertados do jugo colonial. A contra ofensiva do imperialismo, face às lutas dos trabalhadores e dos povos destes países por uma independéncia nacional auténtica, soluçôes aos sérios problemas da dependéncia económica, do atraso e dos efeitos da crise do mundo capitalista, se traduzem rapidamente numa política de conteúdo fascista e de repressao violenta contra o movimento sindical e popular. Portanto o impulso das lutas populares, a correlaçao de forças no mundo, cada vez mais favorável à paz e ao progresso, a contradiçao inter-imperialista minam o sistema de dominaçao dos EUA no continente, ampliam as bases sociais 8 da luta anti-imperialista e facilitam as posiçôes mais independentes daqueles governos, o que obriga o próprio governo norte americano a rever sua imagem quanto à política latino-americana. A evoluçao sindical nesta regiao é caracterizada pela intensificaçao das açôes e os progressos registrados pela superaçao da divisao, por meio de organismos de unidade de açao nos diversos países, do desenvolvimento de relaçôes entre organismos de diferentes filiaçôes e de visar a melhoria das relaçôes entre

as organizaçôes continentais. Em particular com a CPUSTAL, com quem a FSM mantém relaçôes de cooperaçao proveitosas.

Apesar deste otimismo a FSM vai perdendo força ao longo de seis décadas. Do mesmo modo que no COMINFORM, os iugoslavos se retiram ainda nos anos 40. Após a denúncia dos crimes de Stalin no XX Congresso do PCUS, a China se retira. A partir dos anos 60 as divergéncias afloram e se multiplicam quer devido ao Eurocomunismo nascente quer devido à posiçao cubana que tenta exportar sua revoluçao na América Latina e na África. No entanto a partir dos anos 80 a III Revoluçao Tecno Científica acarreta enormes mudanças no perfil do mundo do trabalho onde a própria teoria preconizada por Marx e Lénin quanto à classe operária deve sofrer grandes revisôes. De toda maneira, estas forças ainda mantém certa unidade até a derrocada do "socialismo real", quando a FSM se debilita sobremaneira e muitos dos sindicatos anteriormente filiados a ela, se filiam à CIOSL (Confederaçao Internacional de Organizaçôes Sindicais Livres). A partir de 2006 cria-se uma nova central, a CSI (Confederaçao Sindical Internacional). Embora a FSM mantenha sua sede em Praga, o foco atual é a organizaçao sindical no Terceiro Mundo, utilizando uma linguagem e métodos ultrapassados de luta contra o imperialismo e o neoliberalismo, sem atentar às grandes mudanças acarretadas pela revoluçao tecno-científica e pelas mudanças globais em todas as esferas da vida humana com destaque para as questôes ambientais, ocorridas nos últimos vinte anos os quais constituem uma verdadeira crise de civilizaçao. Na medida em que a análise de conjuntura se dá num paradigma anacrónico, as novas possibilidades extraordinárias que o novo contexto engendra passam quase despercebidas.

O Conselho Mundial da Paz

Com a Guerra na Europa já vencida pelos Aliados e o Japao, no Extremo Oriente exaurido, os EUA decidem langar duas bombas atómicas, uma de uranio e outra de plutonio, em alvos civis japoneses: as cidades de Hiroshima e Nagasaki. O motivo alegado é apressar a rendigao do Império do Sol Nascente com menores perdas humanas e materiais para os Aliados. O Presidente F. D. Roosvelt já havia falecido e H. Truman, um falcao havia assumido a Presidéncia dos EUA. Na verdade, o motivo principal foi exibir a nova arma para conter a URSS na área de influencia definida nos Acordos de Yalta. Agosto de 1945 é o prenúncio da Guerra Fria que se estabelece com a criagao da OTAN em 1949. Após os horrores da guerra na frente européia, a comogao causada pela tragédia de Hiroshima e Nagasaki mobilizou amplos setores da intelectualidade a favor do desarmamento e da paz. Em 6 de agosto de 1948, exatamente tres anos após o langamento da bomba de Hiroshima, se realizou em Wroclaw, na Polonia o Congresso Mundial dos Intelectuais pela Paz do qual participou, entre outros, o filósofo e jornalista brasileiro Alberto Castiel. Neste Congresso se faz um apelo pela organizagao da luta pela paz em nível mundial. E poucos meses depois, em abril de 1949, realizou-se na Sala Pleyel, em Paris, o Congresso dos Partidários

da Paz, e decidiu-se criar o Conselho Mundial da Paz (CMP). Embora a lógica fosse a mesma da cria9ao do COMINFORM e da FSM, o CMP adquiriu uma amplitude muito maior. Como recorda Ehrenburg em suas memoras, 1949 nao é um ano qualquer. É o ano em que a Guerra Fria passa a fazer parte do cotidiano das pessoas. Foi neste ano que é criada a OTAN; ocorre a divisao da Alemanha com a cria9ao de dois Estados; durante a realiza9ao do Congresso tomou-se conhecimento da liberta9ao de Nanquim pelo exército popular chinés e foi ainda neste ano que nasceu a República Popular da China. Foi neste ano que a Holanda foi obrigada a reconhecer a independéncia da Indonésia. As lutas pela independencia do Vietna estavam em curso e os guerrilheiros gregos ainda lutavam, mas o desfecho desta guerra civil foi determinado pela Doutrina Truman.

Embora estivessem presentes neste primeiro Congresso do CMP notórios artistas, escritores e cientistas comunistas como Pablo Picasso, Anna Seghers, Ilya Ehrenburg, Paul Eluard, Louis Aragon, Joliot Curie e John Bernal, bem como os latino-americanos Pablo Neruda, Nicolas Guillén e Jorge Amado, ali também se encontravam sacerdotes, como Nicolai Krutitski e o abade Boulier, o ex-presidente mexicano Lázaro Cárdenas, a rainha Elizabeth da Bélgica, o escritor Heinrich Mann, os pintores Marc Chagall e Henry Matisse e o ator Charles Chaplin. No Congresso ouviu-se discursos de pessoas simples que vinham dar seu depoimento sobre os horrores presenciados durante a guerra e que nao queriam vé-los repetidos. Frederic Joliot Curie, Prémio Nobel de química, foi eleito primeiro Presidente do CMP. A sede do CMP foi inicialmente em Paris e com o acirramento da Guerra Fria o CMP foi expulso desta cidade e transferiu-se para Helsinki, Finlandia. Nao obstante a estrutura do CMP ser da tradi9ao hierarquizada leninista, os Congressos continuaram ao longo dos anos tendo esta estrutura mais aberta com delega9oes numerosas representando políticos, militares, cientistas, escritores, artistas, médicos, educadores, jornalistas, religiosos, mulheres e jovens. A primeira campanha organizada pelo CMP consistiu na coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo que demandava a aboli9ao das armas atómicas. Os Partidários da Paz coletaram milhoes de assinaturas em todos os rincoes do planeta apesar de persegui9oes e prisoes em muitas regioes do mundo, em particular, na América Latina. Nao obstante as condi9oes difíceis, só no Brasil foram colhidas mais de 1 milhao de assinaturas.

Em todos os momentos durante cerca de 50 anos o CMP organizou campanhas globais em fun9ao dos diversos problemas que iam surgindo. No plano da escalada armamentista lutou contra esta escalada e pelo banimento dos testes nucleares, contra a produ9ao das bombas de neutrons anunciadas pelo presidente Jimmy Carter, contra a política da OTAN de estacionar os mísseis Pershing e Cruise na Europa e outros locais do mundo. Promoveu também a iniciativa de Zonas Desnuclearizadas em várias partes do mundo. Em 1988 ocorreu uma Conferencia em Berlim Leste pelas Zonas Desnuclearizadas á qual compareceram várias delega9oes latino-americanas. A delega9ao brasileira era composta pelo Deputado Modesto da Silveira e pelo eminente Prof. Ubiratan D'Ambrosio, professor titular da UNICAMP. No plano de conflitos localizados e outros problemas no Terceiro Mundo exerceu um papel importante durante a Guerra da Coréia realizando campanhas nos mais diversos países contra o envio de tropas. Cabe lembrar que Elisa Branco, uma tecela brasileira desfraldou uma faixa no dia da Independencia do Brasil, num desfile militar,

cujos dizeres eram: "Nossos filhos, os soldados nao irao para a Coréia". Por este feito ficou presa durante dois anos e foi laureada com o Prémio Stalin da Paz, mais tarde transformado em Prémio Lénin da Paz. Esse tipo de heroísmo fazia parte de uma cultura de abnegaçao total à causa da Revoluçao. Alberto Negri, membro da Juventude Comunista desfraldou no mesmo dia, outra faixa com os mesmos dizeres num outro ponto de concentraçao da juventude. Nesta época houve denúncias de que os EUA estariam utilizando a guerra bacteriológica na Coréia e Joliot Curie nomeou uma comissao de médicos especialistas para acompanhar as ocorréncias naquele campo de batalha. Entre os cinco médicos nomeados, o único da América Latina foi o brasileiro Samuel Pessoa, professor catedrático de parasitologia da USP. Durante os anos 50 e 60 o CMP realizou grandes manifestaçôes pela descolonizaçao da África e da Ásia e nos anos 70 pelo fim da guerra e reunificaçao do Vietna; nesse período teve, também, uma contribuiçao decisiva na detente mundial pela paz ao assinar a Ata Final dos Acordos de Helsinki. Outra frente consistia na luta contra o racismo e a xenofobia com destaque especial contra o apartheid da África do Sul. Cabe aqui assinalar as palavras do Sr. Romesh Chandra, secretário-geral do CMP perante o Comité Especial sobre o Apartheid, em setembro de 1971:

Desde o seu surgimento, há vinte e dois anos, o CMP vem dando destaque especial entre os seus objetivos, à questao da erradicaçao da discriminaçao racial. O racismo e o apartheid tém sido condenados e tém sido tomadas iniciativas de açao popular para isolar o regime odiado de Pretória. O CMP se orgulha de contar desde sua fundaçao com os mais renomados líderes da África do Sul que combatem o apartheid.

Neste discurso Chandra cita Oliver Tambo, presidente do CNA e os poderosos movimentos de libertaçao da África do Sul, Namíbia, Zimbábue e das colónias portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné Bissau, todos lideres do CMP. Ressalta que

1971 foi definido pela ONU como o Ano Internacional de Combate ao Racismo e a Discriminaçao Racial. Enquanto o CMP realizou várias atividades... para marcar o ano, ... na verdade é preciso destacar que determinadas poténcias e forças estao celebrando o Ano Internacional intensificando seu apoio ao regime de Apartheid da África do Sul

e denuncia a Gra Bretanha pelo fornecimento de armas ao governo de Pretória. Acrescento que o governo do apartheid apoiou as poténcias da OTAN em todas as ocasiôes e houve uma tentativa de construir a OTAS no Atlántico Sul, junto com os regimes ditatoriais da Argentina e do Brasil. Apesar das boas intençôes o CMP também foi excessivamente unilateral e repercutia apenas aqueles eventos que interessavam à política externa da URSS. Jamais reivindicou a liberdade e a democracia nos países do socialismo real. Nos anos 80, sao reconstruídos os movimentos populres da AL que haviam sido perseguidos e

desestruturados durante a vigencia das ditaduras militares a partir dos anos 60. Como tantos outros movimentos de massa, o movimento dos Partidários da Paz se reorganizam em torno dos Conselhos de Defesa da Paz num qudro de recrudescimento da Guerra Fria em nível mundial.

Durante o período da Perestroika e da Glasnost ocorreram dois congressos do CMP dentro de uma nova conjuntura mundial em que o "novo pensamento político" era muito enfatizado. Apesar deste pensamento possuir uma interse9ao com o marxismo-leninismo clássico, ele é mais amplo. Na era nuclear, é preciso reconhecer a existencia de valores gerais que interessam a toda a humanidade e que estao acima dos interesses de classe ou na9ao. Nas condi9oes atuais, é preciso solucionar primeiro os problemas globais de sobrevivencia da humanidade (paz, desarmamento, meio ambiente, energia etc) e só depois a questao das revolu9oes. Dentro desta lógica, existe um limite objetivo para a confronta9ao de classe em nível internacional bem como para a solidariedade de classe. Como corolário, as formas de luta de classes devem ser mais sutis e sofisticadas, nao podendo ultrapassar as fronteiras nacionais. É preciso salvar o mundo para transformá-lo, mas nao é mais possível transformar o mundo para salvá-lo. Setores expressivos do MCI discordavam desta posi9ao, sobretudo nos países em desenvolvimento liderados por Fidel Castro.

As clivagens já sao nítidas na Assembléia Geral do Conselho Mundial da Paz (CMP) realizada em outubro de 1986 em Copenhague. Embora tal reuniao tivesse ocorrido na semana anterior ás primeiras conversa9oes de paz entre Gorbachev e Reagan em Reykjavik, e houvesse o interesse de mostrar um movimento pacifista coeso e numeroso, as divergencias já se haviam instalado. Quando o CMP voltou a reunir-se novamente em fevereiro de 1990 em Atenas, o ambiente era muito diferente. A URSS estava exaurida economicamente devido ao projeto americano de "Guerra nas Estrelas", o Muro de Berlim já havia caído e o futuro do campo socialista era incerto. Nao havia mais condi9oes da URSS continuar financiando todo o movimento pacifista internacional. Ademais, a tarefa principal era o desarmamento nuclear e as propostas soviéticas fundamentais foram: a desideologiza9ao da luta pela paz e a reestrutura9ao do CMP visando sua regionaliza9ao. A primeira estava diretamente relacionada com as premissas do "novo pensamento político" e a segunda com a descentraliza9ao e democratiza9ao de uma estrutura vertical altamente hierarquizada. As discussoes foram muito tensas, por pouco nao ocorreu uma cisao e o único momento de alegria e descontra9ao deu-se quando foi noticiada a liberta9ao de Nelson Mandela, após 27 anos de cárcere. O pano de fundo eram as divergencias entre os que advogavam um socialismo democrático e renovado e os que preferiam manter o status quo, sem se dar conta do esgotamento do socialismo autoritário. Entre os delegados latino americanos, salvo raríssimas exce9oes, prevalecia a segunda posi9ao, liderada por Cuba. Habitualmente se aprovava propostas no CMP por consenso e talvez, pela primeira vez houve vota9ao. As propostas do hemisfério norte foram aprovadas por pequena margem explicitando a clivagem no campo da paz que surgia em todas as organiza9oes de massa. Foram pouquíssimos os votos de delegados dos países pobres que votaram junto com Moscou. Menos de dois anos depois Yeltsin ocupa o poder na Rússia e a URSS desaparece. O edificio onde funcionava o CMP em Helsinki, de propriedade da missao comercial soviética é requisitado pelo governo russo. Em setembro deste mesmo ano ocorreu o I

Encontro Regional do CMP na América Latina, em Canela, Brasil. Os discursos sucediam-se de maneira monocórdia durante as várias sessoes, com acusagoes aos EUA pela invasao de Granada e do Panamá e á URSS de Gorbachev por ser responsável pela derrocada do socialismo real. Quando um delegado mexicano fez um discurso na plenária final, defendendo "o novo pensamento político", reinou um silencio absoluto de reprovagao. Os Conselhos de Defesa da Paz da Franga, do Japao, da Grécia, de Portugal e Cuba continuaram tentando manter o CMP e conseguiram realizar com o apoio do Movimento Mexicano pela Paz e o governo daquele país um Congresso bastante representativo. Afinal, apesar de uma política interna conservadora, o México tinha tradigao de um país solidário e negociador da paz, tendo participado de vários fóruns com esta finalidade. Foi o primeiro Congresso realizado em terras americanas e foram aprofundadas questoes específicas da América Latina. O Conselho de Defesa da Paz da Franga ficou com a secretaria geral e chegou-se a propor uma reestruturagao total deste organismo tornando-o mais horizontalizado, com a utilizagao de novas tecnologias como a Internet. No entanto cubanos e gregos nao estavam de acordo e o CMP debilitado acaba se esvaziando. A Federagao Mundial das Mulheres Democráticas (FEDIM) sediada em Berlim Oriental e a Federagao Mundial da Juventude Democrática (FMJD) sediada em Budapest, Hungria, foram criadas na mesma época que as demais, com estruturas organicas semelhantes ás anteriores e com os mesmos objetivos, isto é, repercutir em nível mundial a política externa soviética entre as mulheres e os jovens.

Também na tradigao leninista, todos estes organismos tinham sua imprensa. Mas ao longo do tempo também era publicada uma revista que englobava todas as questoes políticas referentes ás diferentes esferas. Nos anos 50 era publicada a revista Problemas, mais tarde a revista Problemas da Paz e do Socialismo e finalmente a Revista Internacional. A sede da revista também era em Praga. A revista publicava artigos de grandes liderangas partidárias e os assuntos podiam ter caráter teórico ou informativo sobre determinada regiao ou país, estratégias de luta relativas a grandes questoes. Pelas mesmas razoes anteriores, todos os organismos entram em coma. A partir de entao Cuba toma as rédeas de todos eles e mais recentemente divide esta responsabilidade com a Venezuela de Chávez e pequenos grupos de esquerda conservadora latino-americana que nao se dao conta que a experiencia do "socialismo real" está esgotada, tentam reconstruí-la e muitas reunioes tem sido promovidas pela Venezuela onde ocorreram, nos últimos anos o Festival Mundial da Juventude, o Congresso da Federagao Mundial das Mulheres Democráticas e o Congresso Mundial da Paz. Todo este aparato perdeu a visibilidade do passado e serve para dar alguma projegao internacional para pequenos grupos. Prevalece o esquema binário do bom e do mau, a lógica primária do "inimigo dos EUA é meu amigo" e outras máximas de um socialismo populista ultrapassado que nao permite saídas para novas experiencias mais complexas e mais ricas.

Recibido: 21 marzo 2010 Aceptado: 5 junio 2010

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Entrevista realizada por Dina Lida Kinoshita e José Cláudio Barriguelli, em Sáo Paulo, 2005.

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